"O Carro Eléctrico", um poema livre de Rogério do Carmo editado na obra "Vagas"
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"O Carro Eléctrico", um poema livre de Rogério do Carmo editado na obra "Vagas"
" Arrebate de desespero e raiva"
Os poetas são libertinos. Ousados. Tem a coragem de referir os estados d'alma. O grande poeta José Carlos Ary dos Santos
"cantou" um dia: "serei tudo o que disserem (...) poeta castrado, não!
- Hoje divulgo a este espaço um poema livre de Rogério do Carmo, editado na obra "Vagas", recentemente editado, em português, em Paris, é, reconhecemos, um "acto" de coragem.
"Escrevo porque o papel é indefeso e a caneta obediente..."
Os poetas são libertinos. Ousados. Tem a coragem de referir os estados d'alma. O grande poeta José Carlos Ary dos Santos
"cantou" um dia: "serei tudo o que disserem (...) poeta castrado, não!
- Hoje divulgo a este espaço um poema livre de Rogério do Carmo, editado na obra "Vagas", recentemente editado, em português, em Paris, é, reconhecemos, um "acto" de coragem.
"Escrevo porque o papel é indefeso e a caneta obediente..."
O CARRO ELÉCTRICO
Da Graça ao Martim Moniz
Do Martim Moniz à desgraça
Secou a água no chafariz
Gaguejou o velho carcaça
Desmaiou o amerelo da Carris
É assim mesmo tudo passa!
Passa a poesia no ar
No ar passa a poesia!
Passou o Fernando Pessoa
O Álvaro de Campos o Alberto Caeiro
Que agora bem alto se apregoa
Passou o Mário de Sá Caneiro
Passaram todos por Lisboa
E ficaram amigos como dantes
Deles se fala no mundo inteiro!
Até dizem que foram amantes!
Um deles mesmo paneleiro!
Vivos só lhes apontaram facas
Mortos são poetas malditos
Vivos foram malditos poetas!
Destinos confusos proscritos
Na terra fria são profetas!
Passou a poesia no ar
No ar passou a minha poesia!
Passei sòzinho a cismar
Contra o mundo inteiro a lutar
Passou a minha euforia!
Assim são os meus versos
Nem medidos nem pesados controversos
Incontidos repudiados dispersos
À espera de verem o dia!
Mas como o dia depressa se faz noite
E na audácia ninguém que se afoite
Na minha campa um dia virão pôr
Os versos que fiz com tanto amor
Na indiferença de uma sociedade que me injuria!
Se de mim nunca quiseram saber
Não me venham depois o cú lamber
Já não preciso da vossa simpatia!
Farto das vossas precauções
Dos velhos poemas de Camões
Que hoje é Portugal e até tem o seu dia!
Se meus versos não são acatados
E meus poemas publicados
É porque vos falta o que a mim me sobra:
A ousadia!
É assim mesmo tudo passa
No vosso mudo almofariz
Nunca dizendo o que se faça
Nunca fazendo o que se diz!
Não estou velho nem acabado
Nem senil nem débil nem aultrapassado
Ainda tenho muito que parir!
E neste grito desgarrado
Deixo bem clarificado:
O melhor ainda está por vir!
Não me impeçam de falar
Não me impeçam de me exprimir
Correm o risco de derrubar
O que vocês mais proclamam:
A vossa democracia!
Há ano e meio que não trabalho
E quando emprego procuro
Mandam-me sempre p'ò caralho
Ou p'à cona da minha tia!
E lá fico contra o muro!
Se depois de morto eu for vendido
Como o Pessoa o Sá Carneiro
Serei eu sempre o mais fodido
Pois morri sem ter vivido!
Deixem-me viver a vida primeiro
Mesmo que nunca seja lido!
Não me falem de Salazar
Nem Caetanos nem Delgados!
Os bifes que sempre me foram recusados
Continuam cada vez mais congelados
Nas vacas que aos outros de mamar!
Não me falem de Fevereiro
Nem de Março nem de Abril!
Nas vossas promessas de cabrões
Não há nem Primaveras nem Verões
Nem Natal nem Páscoa nem Entrudo!
Só utopias quimeras ilusões!
Tudo mostrado por um funil
Tudo visto por um canudo!
Criaram tantos Sindicatos
Para defender os trabalhadores
-E nisso tanta vaidade!-
Para os brancos os pretos os mulatos!
São realmente uns amores!
Até inventaram o limite de idade!
Tens a reforma aos sessenta e cinco!
Tenho cinquenta e emprego não consigo!
Passaste o limite de entrada!
E mandam-me para uma coisa que não digo
Uma palavra muito malcriada
Uma palavra não autorizada
Mas com a fome é que não brinco!
As palavras são todas um meio de expressão
Nem boas nem más apenas a transmissão
Daquilo que penso daquilo que sinto!
E nesta vida de desenganos
Nesta agonia neste desalento
Como sobreviver ainda quinze anos
Como pôr ainda tudo em movimento?
Mais p'à esquerda p'à direita volver
Ou no centro me quedar?
Em qualquer dos casos a ver
Só pão com azeitonas
Há-de ser sempre o meu jantar
Isto se o trigo crescer
Se eu o trigo colher
Se as azeitonas apanhar!
Da Graça ao Martim Moniz
Do Martim Moniz à degraça
Desapareceu o chafariz
Morreu o velho carcaça!
Bardamerda pr'à Carris!
É assim mesmo tudo passa!
É minha tia quem me o diz!
Rogério do Carmo
Villejuif, 23/6/1987
Da Graça ao Martim Moniz
Do Martim Moniz à desgraça
Secou a água no chafariz
Gaguejou o velho carcaça
Desmaiou o amerelo da Carris
É assim mesmo tudo passa!
Passa a poesia no ar
No ar passa a poesia!
Passou o Fernando Pessoa
O Álvaro de Campos o Alberto Caeiro
Que agora bem alto se apregoa
Passou o Mário de Sá Caneiro
Passaram todos por Lisboa
E ficaram amigos como dantes
Deles se fala no mundo inteiro!
Até dizem que foram amantes!
Um deles mesmo paneleiro!
Vivos só lhes apontaram facas
Mortos são poetas malditos
Vivos foram malditos poetas!
Destinos confusos proscritos
Na terra fria são profetas!
Passou a poesia no ar
No ar passou a minha poesia!
Passei sòzinho a cismar
Contra o mundo inteiro a lutar
Passou a minha euforia!
Assim são os meus versos
Nem medidos nem pesados controversos
Incontidos repudiados dispersos
À espera de verem o dia!
Mas como o dia depressa se faz noite
E na audácia ninguém que se afoite
Na minha campa um dia virão pôr
Os versos que fiz com tanto amor
Na indiferença de uma sociedade que me injuria!
Se de mim nunca quiseram saber
Não me venham depois o cú lamber
Já não preciso da vossa simpatia!
Farto das vossas precauções
Dos velhos poemas de Camões
Que hoje é Portugal e até tem o seu dia!
Se meus versos não são acatados
E meus poemas publicados
É porque vos falta o que a mim me sobra:
A ousadia!
É assim mesmo tudo passa
No vosso mudo almofariz
Nunca dizendo o que se faça
Nunca fazendo o que se diz!
Não estou velho nem acabado
Nem senil nem débil nem aultrapassado
Ainda tenho muito que parir!
E neste grito desgarrado
Deixo bem clarificado:
O melhor ainda está por vir!
Não me impeçam de falar
Não me impeçam de me exprimir
Correm o risco de derrubar
O que vocês mais proclamam:
A vossa democracia!
Há ano e meio que não trabalho
E quando emprego procuro
Mandam-me sempre p'ò caralho
Ou p'à cona da minha tia!
E lá fico contra o muro!
Se depois de morto eu for vendido
Como o Pessoa o Sá Carneiro
Serei eu sempre o mais fodido
Pois morri sem ter vivido!
Deixem-me viver a vida primeiro
Mesmo que nunca seja lido!
Não me falem de Salazar
Nem Caetanos nem Delgados!
Os bifes que sempre me foram recusados
Continuam cada vez mais congelados
Nas vacas que aos outros de mamar!
Não me falem de Fevereiro
Nem de Março nem de Abril!
Nas vossas promessas de cabrões
Não há nem Primaveras nem Verões
Nem Natal nem Páscoa nem Entrudo!
Só utopias quimeras ilusões!
Tudo mostrado por um funil
Tudo visto por um canudo!
Criaram tantos Sindicatos
Para defender os trabalhadores
-E nisso tanta vaidade!-
Para os brancos os pretos os mulatos!
São realmente uns amores!
Até inventaram o limite de idade!
Tens a reforma aos sessenta e cinco!
Tenho cinquenta e emprego não consigo!
Passaste o limite de entrada!
E mandam-me para uma coisa que não digo
Uma palavra muito malcriada
Uma palavra não autorizada
Mas com a fome é que não brinco!
As palavras são todas um meio de expressão
Nem boas nem más apenas a transmissão
Daquilo que penso daquilo que sinto!
E nesta vida de desenganos
Nesta agonia neste desalento
Como sobreviver ainda quinze anos
Como pôr ainda tudo em movimento?
Mais p'à esquerda p'à direita volver
Ou no centro me quedar?
Em qualquer dos casos a ver
Só pão com azeitonas
Há-de ser sempre o meu jantar
Isto se o trigo crescer
Se eu o trigo colher
Se as azeitonas apanhar!
Da Graça ao Martim Moniz
Do Martim Moniz à degraça
Desapareceu o chafariz
Morreu o velho carcaça!
Bardamerda pr'à Carris!
É assim mesmo tudo passa!
É minha tia quem me o diz!
Rogério do Carmo
Villejuif, 23/6/1987
JornalExtra-Online- Chefe de Redacção
- Número de Mensagens : 291
Data de inscrição : 28/03/2008
Carro Eléctrico
Quem é este senhor que diz tudo o que penso e que ninguém ousa dizer?
Onde bvive, comlo vive, para que vive neste mundo de mortos sem coragem para escrever o que lhes vai na alma?
Queremos mais!!
Onde bvive, comlo vive, para que vive neste mundo de mortos sem coragem para escrever o que lhes vai na alma?
Queremos mais!!
Cravo En- Convidado
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