José Saramago - Vida e Obra

José Saramago nasceu no Ribatejo, no seio de uma família de agricultores. Esforçou-se pela vida, que não lhe foi fácil, mercê da situação económica e política em Portugal, castradora de direitos. A política de Salazar "agrediu" Saramago enquanto jovem, tal como a todos os jovens do seu tempo. Os mais favorecidos, no seio de famílias mais abastadas, ter-se-ão tornado "intelectuais", revoltados todavia quase todos pelas condições de vida e pela repressão do ditador.

Saramago foi operário, foi muitas outras coisas até à vida brilhante de jornalista e escritor autodidacta e democrata sempre! Defendeu os oprimidos numa forte convicção que viria a valer-lhe alguns dissabores de perseguições do regime. Enfileirou trincheiras, fez-se comunista. Lutou desesperadamente pela causa da liberdade. Tornou-se crítico acérrimo das injustiças sociais, da falta de dignidade humana e de outras compusturas sociais e políticas que prejudicaram o povo português durante o regime de Salazar.

Tacteia cautelosamente o mundo das letras. Progride. Abalança-se a outras tarefas da vida literária portuguesa. Casa-se com uma funcionária da CP e desse casamento nasce uma filha. Incompatibilizam-se na vivência e o casamento desfaz-se. A filha fica com a mãe. Estuda, cresce e na década de 80 é autarca nos Açores. Saramago "empreende" uma outra relação com uma poetisa e escritora com quem vive longos anos. Chora de amor quando Saramago termina a relação.

A projecção literária de Saramago é já uma constante no panorama literário português. Anos 70, enfileirando trincheiras dos democratas que fizeram Abril, participa no projecto editorial do Jornal Extra, dirigido pelo escritor e jornalista Mário Ventura Henriques, que viria a ter uma vida efémera em consequência de convicções político-partidárias do director incompatíveis à altura com as do Partido Comunista Português e da inter-sindical.

Saramago parte para outra e a Caminho, editora com capitais do PCP, apoia as obras de Saramago. Edita livros. A comunicação social à altura apoia quase intransigentemente os intelectuais afectos às forças de esquerda.

Mercê de tudo isso e da qualidade literária das suas obras, Saramago eleva-se de grau a grau na escalada literária e conquista o Prémio Nobel, que lhe é atribuído (no final dos anos 90) e que vai receber à Suécia das mãos do Rei Gustavo. Já Saramago na altura se entretecia entre Portugal e Espanha. Escolhe Lanzarote para viver e uma companheira espanhola, jornalista, que o apoia incondicionalmente, até mesmo quando Portugal o não valorizava na dimensão do seu valor literário, obviamente por convicções políticas antagónicas dos governos da altura.

Saramago era na redacção de "O Ponto" - outro projecto editorial que partilhou nos anos 80 - um companheiro assaz pouco simpático, mas muito consciente, interveniente e crítico. No "Ponto", Saramago trabalhou a par com Baptista Bastos, Jacinto Batista, Ângelo Granja, Rui Cartaxana, Mário Rosendo, Maria Leonor Quaresma, António Avelãs, entre outros, mais Edgar Valles, hoje advogado, irmão da Cita Valles, uma guerrilheira pela liberdade de Angola, assassinada pela causa, na década de 70.

Saramago entrava na redacção - no Inverno - com o seu capote alentejano, gola de pele, um boné aos quadrados de pala pendente sobre os olhos. Sentava-se a pensar e escrevia, escrevia, escrevia. Não falava. Nos momentos de convívio entre camaradas de redacção, sorria - raramente - mas bebiam-se-lhe com agrado as palavras, as opiniões.

Saramago é um homem frio, distante, mas sem dúvida um dos nossos melhores escritores. A obra de Saramago está em exposição no Palácio da Ajuda, em Lisboa, entre o mês de Abril e Maio.