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25 de Abril de 1974: Entre a História e o Mito

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Mensagem por JornalExtra-Online Qui 17 Abr 2008 - 13:55

25 de Abril de 1974: Entre a História e o Mito Abril


No ano nonagésimo oitavo do Diário de Noticias, na edição número 34.426, de 1 de Janeiro de 1962, dirigido por Augusto de Castro, uma edição especial, chamada de suplemento, dava conta ao país do Assalto ao Quartel de Beja.

Portugal vivia tempos difíceis. Opressão, medo, revolta . A polícia política, a PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado) controlava “exércitos de bufos” para denunciar a troco de uns magros cobres. Nas empresas, nas fábricas, nas escolas, nos cafés. Exemplo disso um aparente pacato cidadão que no Café Nicola, no Rossio era pago para provocar. E o resto acontecia. A revolta dos cidadãos mais destemidos, menos conscientes, menos politizados e não organizados deixavam empolar o sentimento e sair a opinião denunciada pelos esbirros, atentos aos incautos.

E todos os dias havia prisões. Democratas, anarquistas, comunistas e cristãos que por objecção de consciência diziam não ao patriotismo obsoleto e recusavam a guerra. Ia tudo “dentro”: Caxias, Aljube, Tarrafal.

Almada destacou-se na fileiras da solidariedade para com as famílias dos presos políticos. E foi também de Almada que saíram em grupo de peito feito à luta rumo a Beja numa acção clandestina organizada pelos homens de mão de Humberto delgado. Aí se determinou o “embrião” do 25 de Abril de 1974. A tropa entendeu que só aliada ao movimento de massas poderia fazer mudar a triste história do ditadura fascista em Portugal.

A 1 de Janeiro de 1962 Américo Tomás, almirante, então Presidente da República na mensagem de Ano novo, referia fazendo nisso a tónica “em Angola e na Índia que tanto sangue português custaram já, fomos vítimas e somos, portanto, acusadores e não réus. É de crer que o Ocidente desperte finalmente da letargia em que tem vivido, apercebendo-se de que pode estar caminhando rapidamente para a pior de todas as escravidões” – E assim, “brilhantemente” falava Américo Tomás nos jornais que eram, como se sabe a “voz do dono” pois o Secretariado Nacional da Informação, - SNI- proibia a liberdade de Imprensa. As verdades não se podiam dizer.

Por isso se não disse que o subsecretário do exército, tenente-coronel Jaime da Fonseca, fora morto por engano, pelas suas próprias tropas afectas ao regime quando se dirigia a Beja e o julgaram “assaltante”. A Censura e o tão falado “lápis azul”, no SNI – Secretariado Nacional da Informação – proibia aos jornais de revelar a verdade. As mesmas tropas balearam mais tarde durante a operação, já em Beja o capitão Varela Gomes, que ficou em perigo de vida e mataram um antifascista. O jornal não o refere nem o identifica com dignidade.

Naquele dia o DN referia que o ministro de Estado Correia de Oliveira, fora a Beja em representação do Governo e de Salazar, acompanhado por Kaulza de Arriaga, secretário de Estado da Aeronáutica e reuniram no Governo Civil. Nesse aparato pretenderam “tapar” que Jaime da Fonseca fora morto pelas suas próprias tropas ! por engano. E fizeram dele bandeira vitima dos conspiradores.


    LISTA DE ANTIFASCISTAS DE ALMADA
    HEROIS DO ASSALTO A BEJA


  • Joaquim Sim-Sim;
  • Duarte Galo;
  • António Pombo Miguel;
  • Manuel Peralta;
  • João Pereira Abreu;
  • António Santos Pereira;
  • Fernando Nunes Pereira;
  • António Matos;
  • Filipe Assunção Lopes;
  • Alípio Santos Rocha

    Quase todos operários sendo alguns outros do Arsenal do Alfeite. De entre eles um antifascista conhecido por Chico do Baleizão, que se evadira do forte de Caxias e tomar parte neste movimento de Beja onde perdeu a vida.

    O jornal EXTRA manifesta a sua gratidão a dois dos antifascistas interveniente nesta gloriosa acção que fez abanar o Governo de Salazar como até então ninguém mais havia feito.




Excerto do DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 1.01.1962

“Sacrifício da própria vida -Logo que no Ministério do Exército houve informação acerca do assalto ao quartel do Regimento de Infantaria 3, em Beja, o ministro, sr. Brigadeiro Mário Silva, e o inditoso subsecretário, sr. tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, compareceram no gabinete a fim de procurarem obter mais amplos esclarecimentos sobre o sucedido, tomando conhecimento de que o ataque dos elementos subversivos àquela unidade se havia dado às primeiras horas da madrugada. Entretanto, chegaram também ao ministério o sr. general Câmara Pina e o sr.dr. Correia de Oliveira, ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho. O sr. tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca decidiu, de acordo com o ministro seguir para Beja, com a missão de observação a que se referem as notas oficiosas. Partiu apenas acompanhado pelo oficial ajudante do gabinete, sr. capitão Alves Ribeiro, e de uma ordenança da Polícia Militar e de um sargento motorista. Foi, porém o próprio subsecretário de Estado quem guiou o automóvel, numa viagem difícil, feita sob violento temporal, tendo conseguido chegar a Beja ainda antes das 6.30.Parou o carro a cerca de dois quilómetros do aquartelamento assaltado, no qual ainda se lutava, e, apenas com o sr. capitão Alves Ribeiro, destemidamente, como militar brioso que era, encaminhou-se para o regimento de Infantaria 3 . Já perto do quartel, ao atravessar um talude em frente da entrada, tiros isolados atingiram directamente e com maior gravidade, o sr. tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca. O seu camarada, capitão Alves Ribeiro, que, felizmente, não foi atingido por qualquer dos projecteis, procurou reanimá-lo, mas em vão. E ainda debaixo de fogo, abnegado e valorosamente, retirou o subsecretário ferido da zona perigosa, abrigando-se com ele atrás de um sobreiro. Só passado certo tempo, quando a situação estava completamente dominada, o sr. capitão Alves Ribeiro, pôde identificar-se sem perigo. Mas, entretanto, o subsecretário de Estado havia sucumbido aos graves ferimentos recebidos, como o verificou um médico que acorreu para lhe prestar assistência. Pouco depois, o corpo do sr. tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca era colocado numa ambulância dos Bombeiros Voluntários de Beja, que o trouxe para Lisboa. Com ele veio ainda somente o seu abnegado companheiro que nada sofreu, além da emoção causada pela morte do seu camarada e subsecretário de Estado. O corpo do sr. tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca foi levado directamente para o Hospital Militar Principal, em cuja capela ficou depositado em câmara ardente. O sr. capitão Alves Ribeiro seguiu imediatamente para o Ministério do Exército, onde foi logo recebido pelo ministro, brigadeiro Mário Silva, ao qual deu conhecimento verbal das circunstâncias em que ocorreu a morte do inditoso subsecretário de Estado”.


Mas o relato não era real. Os “tiros isolados” foram dados pela tropa. Pois o Golpe ficou gorado nas primeiras acções quando Varela Gomes foi ferido . Dois homens de Almada que participaram na acção a Beja narram pormenores indesmentíveis. Voltaremos ao tema nos próximos dias.
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