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"Quem era Linda de Suza na vida de Rogério do Carmo?" - PARTE 1

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Mensagem por JornalExtra-Online Qui 9 Out 2008 - 2:39

Linda de Suza na vida de Rogério do Carmo


Parte 1

LINDA DE SUZA e a “Mala de Cartão” -Amores invejas e raivas
Ou o reencontro dum grande amor!





Linda de Suza - "La Valise en Carton”

Quem é ou quem era Linda de Suza?

Como apareceu Linda de Suza na vida de Rogério...


Linda de Suza caiu-me do céu aos trambolhões nessa bela tarde do dia 11 de Março de 1978.
Eu acabava de regressar de Israel.
Sentara-me na pequena sala do meu modesto apartamento - na Edouard Vaillant, em Boulogne Billancourt; via televisão para matar o tempo, sem me aperceber que era o tempo que estava docemente a matar-me a mim!



NNessa tarde escolhi o programa de Michel Drucker “Le Rendez-Vous du Dimanche”. Quis rever o show de Claude François, que eu muito apreciava.

"Quem era Linda de Suza na vida de Rogério do Carmo?" - PARTE 1 Caude_10
Claude François


Tomei-me de surpresa, e desconforto, quando abruptamente, Michel Drucker, voz embargada e emocionado nos anuncia a súbita morte do seu convidado, Claude François, o tão popular Cloclo!
Mas como o show tinha que continuar (the show must go on) Michel Drucker convoca uma jovem portuguesa para ela tentar preencher o grande vácuo que Cloclo deixara atrás de si.
Assim, pela primeira vez na televisão francesa, a bonita Linda de Suza, com uma flor na sua bela cabeleira negra, canta-nos o seu primeiro sucesso: “A Mala de Cartão”!
Mais tarde vim a saber que o seu verdadeiro nome era Teolinda Joaquina de Sousa Lança, nascida no dia 22 de Fevereiro de 1948, em Beringel, Portugal.

Espertezas de empresários…


Linda de Sousa iniciava logo ali uma grande carreira internacional. Isto nas mãos do seu empresário um homem muito esperto.Muito esperto ! Tanto que sabendo a comunidade portuguesa como sendo a maior radicada no país – França -, e conhecendo o gosto popular dos portugueses aqui residentes impõe a Linda de Suza como base obrigatória de repertório cantigas popularuchas, afinal tanto do apreço dos portugueses, como “La Valise en Carton”, como mercado bem “rendível” e sem dar à cantora alternativa de mudar afinal para apresentar e desenvolver as múltiplas capacidades que tinha como cantora de outros géneros mercê da sua extraordinária voz!


Uma Cinderella sem fada madrinha…


Fizeram dela uma espécie de Cinderela “robotizada”, sem castelos e sem príncipes, onde o “marketing” foi a madrasta cruel a dificultar-lhe desejos artísticos impondo-lhe um padrão que se pudesse decidir por certo não escolheria.
A madrinha foi a sua mala de cartão que se impôs à imagem de marca “FABRICADA” pelos empresários e a “exploração” da imagem de um filho de colo levado nos braços, idos de Portugal até França, sinuosos percursos de altos e baixos, fronteira atravessada a pé, fugindo a salto de uma vida sem futuro, mãe solteira de família modesta.

A mala de cartão foi feita um triunfo, igualzinha àquelas que milhares de portugueses levaram como bagagem quando anos 60/70 daqui deram o “salto” para viver em França.

Linda cantava este estilo de refrãos muito prezados pelo sofrido povo português emigrado, a faixa maior do seu público. E para o empresário muito rentável, a despeito da mediocridade. Todos os temas sempre inspirados na aventura de Linda, sempre cantigas de sabor saudoso, a chamar ao sentimento e comj obrigatório “toque” autobiográfico a fazer “render” até estafar.



O 1º encontro com a deslumbrante Linda de Suza...


Por essa altura trabalhava eu no Rádio Clube Português em Villejuif.
Convidei a Linda para o meu programa “Encontro às Dez”.
Ela aceitou, mas como queria conhecer-me antes de partipar no meu programa,tomámos um café em minha casa, ali mesmo ao pé da rádio.
Linda chegou por volta das oito da noite acompanhada pela filha do seu empresário. Subiram ao meu primeiro andar e instalaram-se.


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Rogério do Carmo e Linda de Suza na sua casa em Villejuif


Confiados sonhos…


Bebemos um bom café e “gateux de chocolat” que eu mesmo fizera nessa tarde.
O meu bolo fora deglutido com tal prazer por Linda que entre amena cavaqueira
Me pediu a receita. Um sarilho; a receita inventara-a eu e tive de repensá-la “tim-tim por tim-tim”. E lá ficou registada de principio ao fim em pormenor, sobre uma folha de papel que Linda leu e releu, perguntou, dobrou e guardou na sua pequena sacola.
Depois de me ter conhecido e adorado o meu bolo, fomos a pé até à rádio e, às dez em ponto, fomos para o ar com “a sua mala de cartão”.Durante a entrevista, casualmente falando de coisas e loisas sem grande importância, descubro que Linda era uma rapariga inteligente, modesta, e divertida.

Este encontro às dez foi um grande sucesso com muitas chamadas de ouvintes. Este foi o meu primeiro contacto com Linda de Sousa!
Voltei a ve-la num outro grande acontecimento na sua vida: um espectáculo no Olympia!


Entrevistei-a curtamente antes do espectáculo, na cafetaria do teatro.
Depois fiquei a ver o concerto, deslumbrado com a sua voz, presença em palco.
Ela era uma vedeta. Estava linda num magnífico vestido negro, até aos pés, de talhe muito justo adornado com uma curta capa escarlate. Respirava talento e mostrava um imenso à vontade em palco!

Mulher de voz quente e harmoniosa, sabia mover-se como uma diva e sabia
muito particularmente comunicar com o seu público.

Passou tempo. Linda acumulava êxitos e afirmava-se cada vez mais popular.

Os seus discos vendiam-se aos milhares e eram constantemente difundidos por todas as rádios do país. Linda aparecia nos jornais e revistas, em França quase diariamente.
As semelhanças físicas com Amália Rodrigues e a parecença de voz elevam Linda ainda mais longe.
Nos anos 80 vem a Portugal e é recebida com pompa e circunstância num grande espaço da música “Rock rendez vous”, onde na altura actuava um conjunto português dirigido por Paulo Gonzo.



O talento e a beleza de Linda de Suza deslumbrava cada vez mais Rogério...

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“La Valise en Carton”


Ainda anos 80 e em Paris, anuncia-se o Show “La Valise en Carton” num teatro de Paris. Outro grande êxito!
Fui ver o espectáculo e fiquei surpreendido com o talento dela não só como cantora, mas muito especialmente pela sua presença.

Nessa noite, estupefacto, verifiquei que ela, com o seu belo timbre de voz e técnica de canto e o seu à vontade - interpretando o seu próprio personagem - punha todos os outros componentes da companhia a um canto, encostados a uma parede! Ela abafava-os, tal o seu talento.
Actores profissionais com longas carreiras, que não lhe chegavam aos calcanhares!

Daí às invejas, despeitos, foi um só passo. Toldavam, ameaçadoramente a cantora/actris e a sua carreira!
Uma noite, telefono-lhe e ela concede-me uma outra entrevista no teatro, um pouco antes do começo do show.

Acompanham-me ao seu camarim, onde ela se maquilhava frente a um enorme
espelho e entre montes de ramos de flores da véspera. Eu colocava as minhas questões e ela - sempre pondo mais em evidência a sua beleza natural - ia respondendo.

Ela era “robotizada” pelo empresário. Nesse mesmo dia, subitamente entra no camarim, muito agressivo, aproxima-se e à queima-roupa impele-a que ela não está autorizada a receber jornalistas no seu camarim e: “despache-se para entrar já em palco”.
“Não sou nenhuma parva. Sei muito bem o que faço, sou eu quem manda em mim e não você”, riposta Linda no mesmo tom de agressividade.
Lembrou ao empresário que sem ela o show nunca teria sido posto em cena e a encher casas noite após noite.



Disse-lhe ainda que se ele não estava contente arranjasse alguém com a sua voz para interpretar o papel da sua Linda de Sousa!

Ficou decretado ali o “seu esmagamento”. Nesse momento eu previ que tal empresário a esmagaria impiedosamente num futuro muito próximo!

Uma noite, depois das notícias na televisão, anunciam que o filme “La Valise en Carton” iria ser mostrada nesse mesmo canal, em episódios, muito brevemente. Fiquei contente pois que temia bastante pelo futuro pessoal e profissional da Linda.

A carismática actriz que fez o papel de Linda nesse filme impressionou-me tremendamente.

Parecia-se muito com ela, não só fisionomicamente, como temperamentalmente. Nesse filme, ela realmente “encarnou” a Linda dos pés à cabeça!
Um dia convido-a para uma entrevisto na Rádio Alfa que se formara entretanto, nascida do Rádio Clube Português de Villejuif e de que fui fundador, agora em Valenton.
Fatalmente, essa entrevista começa com a legendária cantiga.
Começo a questioná-la e ela respondia-me como se fosse a própria Linda em pessoa.

Penso que ela se deixou apoderar pelo personagem que interpretou nesse filme.
Quando, intencionalmente lhe pergunto se no “show biseness” onde penetrou era preciso ir para a cama com os patrões/empresários para garantir trabalho, ela responde-me simplesmente:
- “P’ra cama ? Não! Que disparate! De pé, numa retrete. Perde-se menos tempo!”
-Entendi.



Inesperadamente, Linda de Sousa começa lançar cantigas de grande qualidade musical e textos de grandes poetas franceses.
Delirei com este desdobramento.
A sua voz e o seu talento andavam a ser menosprezados.
Finalmente ela nos surpreende com trechos poderosos.
Mas não a “deixaram” ir muito longe com a sua nova faceta de cantora a sério.
Linda foi vitima de oportunistas que não tomavam em consideração que os ganhos obtidos com as vendas dos seus trabalhos quantas vezes lamentáveis;
Exemplo disso o “Tiro Liro”.

Pouco a pouco ela desaparecia dos horizontes musicais franceses.

Ninguém sabia o que tinha acontecido à Linda.

Nem nunca o saberão! As portas dos “médias” foram estritamente cerradas a essa grande artista!

Linda de Sousa tinha sido pura e simplesmente explorada até à medula, castrada de criatividade, de talento e depois deitada ao lixo sem dó nem piedade, por esses grandes patrões que tinham - ainda têm e sempre terão - o Poder nas suas ávidas garras de predadores insaciáveis!

Mais tarde soube-a reaparecida, anos 90, ao lado dos L’Arriça. Sei que tiveram êxito.


Rogério do Carmo
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Chefe de Redacção

Feminino Número de Mensagens : 291
Data de inscrição : 28/03/2008

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